Era um dia quente de verão, Alexia havia ligado me convidando para ir ao cinema ver o novo filme do Tim Burton. Estava animada, afinal, fazia tempo que não ia ao cinema, e mais tempo ainda que não via Alexia. Éramos amigas de infância, eu a conhecia há pouco mais de 15 anos. Ela parecia preocupada quando me ligou, queria me contar alguma coisa, uma coisa importante disse ela. Aceitei.
Quando a hora ia se aproximando, eu fui ficando nervosa aos poucos. O que seria afinal, tão importante ? Ela não era de se preocupar com coisa pouca.Se Ale estava preocupada, então era sério, sérissímo. Tomei um banho, coloquei uma roupa fresquinha, shorts e bata e arrematei com uma rasteirinha, esta última, havia ganhado de presente de aniversário dela.
Bateu a hora, peguei a moto e fui.
Lá estava ela, com uma roupa quase idêntica a minha. As pessoas sempre perguntavam se nós éramos irmãs, eu não ligava, ela sempre foi minha melhor amiga.E nós nos pareciamos fisicamente,a única diferença era que Alexia tinha cabelos longos e tingidos nas pontas, enquanto o meu era curtinho, na nuca. Gostavamos das mesmas coisas, mesmas lojas e roupas, o gosto só se diferenciava no corte de cabelo.
Fomos comprar os ingressos, a sessão ia demorar, então resolvemos comer alguma coisa no nosso restaurante preferido. Ale tinha acabado de voltar de uma viagem, e me trouxera inúmeros Bottons, pequenos broches de plástico que eu adorava colecionar. Fiquei extremamente feliz por ela ter se lembrado disso, e pedi pra ela abrir alguns para eu prender na minha mochila. Ela estava no segundo, quando soltou um gritinho e jogou o bottom longe, havia furado o dedo. Eu, no susto, cortei minha mão com uma faca, e na pressa de ajudá-la, nem vi que ela estava sangrando e eu também. Peguei sua mão machucada.
Ela ficou pálida, olhando para nosso sangue misturado. Petrificada. Ela me contou o que queria me contar. Havia contraído na viagem,disse,não se cuidou direito, não usou camisinha.Não fiquei brava, ela não tinha feito de propósito.
Após o acontecido, fui com ela fazer todos os exames. Deu positivo.
Foi assim que eu me tornei soropositiva. Um pequeno furo de alfinete, na mão da minha melhor amiga.
Gostei! Começa de um jeito tao sutil, o modo que termina é surpreendente, tão cotidiano, você fez parecer uma história quase banal, adorei a narrativa!
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