24 de mar. de 2013

Pacto de Sangue


Era um dia quente de verão, Alexia havia ligado me convidando para ir ao cinema ver o novo filme do Tim Burton. Estava animada, afinal, fazia tempo que não ia ao cinema, e mais tempo ainda que não via Alexia. Éramos amigas de infância, eu a conhecia há pouco mais de 15 anos. Ela parecia preocupada quando me ligou, queria me contar alguma coisa, uma coisa importante disse ela. Aceitei.
Quando a hora ia se aproximando, eu fui ficando nervosa aos poucos. O que seria afinal, tão importante ? Ela não era de se preocupar com coisa pouca.Se Ale estava preocupada, então era sério, sérissímo. Tomei um banho, coloquei uma roupa fresquinha, shorts e bata e arrematei com uma rasteirinha, esta última, havia ganhado de presente de aniversário dela.
Bateu a hora, peguei a moto e fui.
Lá estava ela, com uma roupa quase idêntica a minha. As pessoas sempre perguntavam se nós éramos irmãs, eu não ligava, ela sempre foi minha melhor amiga.E nós nos pareciamos fisicamente,a única diferença era que Alexia tinha cabelos longos e tingidos nas pontas, enquanto o meu era curtinho, na nuca. Gostavamos das mesmas coisas, mesmas lojas e roupas, o gosto só se diferenciava no corte de cabelo.
Fomos comprar os ingressos, a sessão ia demorar, então resolvemos comer alguma coisa no nosso restaurante preferido. Ale tinha acabado de voltar de uma viagem, e me trouxera inúmeros Bottons, pequenos broches de plástico que eu adorava colecionar. Fiquei extremamente feliz por ela ter se lembrado disso, e pedi pra ela abrir alguns para eu prender na minha mochila. Ela estava no segundo, quando soltou um gritinho e jogou o bottom longe, havia furado o dedo. Eu, no susto, cortei minha mão com uma faca, e na pressa de ajudá-la, nem vi que ela estava sangrando e eu também. Peguei sua mão machucada.
Ela ficou pálida, olhando para nosso sangue misturado. Petrificada. Ela me contou o que queria me contar. Havia contraído na viagem,disse,não se cuidou direito, não usou camisinha.Não fiquei brava, ela não tinha feito de propósito.
Após o acontecido, fui com ela fazer todos os exames. Deu positivo.
Foi assim que eu me tornei soropositiva. Um pequeno furo de alfinete, na mão da minha melhor amiga.

Um comentário:

  1. Gostei! Começa de um jeito tao sutil, o modo que termina é surpreendente, tão cotidiano, você fez parecer uma história quase banal, adorei a narrativa!

    ResponderExcluir