Um congresso sobre novas formas para a lapidação de pedras
preciosas trouxe ao Rio de Janeiro alguns dos maiores fabricantes de joias do
mundo.Um forte esquema de segurança foi
montado no Sheraton Hotel, onde estava sendo realizado o congresso e onde a maioria
dos participantes estava hospedada. Isso porque muitas pedras preciosas brutas
e também diversas joias valiosas haviam
sido trazidas, pois seriam mostradas durante o evento.
Em cada andar, havia três guardas: um junto aos elevadores,
outro junto à escada de incêndio e outro junto à entrada de serviço das
camareiras. A cada seis horas os guardas eram trocados, sendo que os andares
eram guardados 24 horas por dia.
Mesmo com todo o esquema de segurança, um enorme diamante
bruto avaliado em US$ 1.000.000,00 foi roubado. O proprietário do diamante , o
senhor Collen Krúdy, um conhecido negociante de joias húngaro, aficcionado por
diamantes, chamou a policia tão logo entrou no seu apartamento e deu com o
armário aberto e desarrumado e o cofre arrombado. Isso aconteceu no final da
tarde do primeiro dia do congresso, três dias após sua chegada ao hotel. O
senhor Krúdy viajou ao Rio em companhia de sua mulher, Erzebeth Krúdy, com quem estava casado há cinco anos.
Antes do casamento, a senhora Krúdy era uma aspirante
à atriz do teatro Francês e havia trabalhado alguns anos como figurinista e
maquiadora de uma companhia de teatro francesa.
O senhor Krúdy passava por uma grave crise financeira, por
causa de alguns investimentos fracassados que havia feito nas bolsas de valores
asiáticas. Estava endividado e já havia levantado alguns empréstimos em bancos
europeus e brasileiros. Como um homem prevenido, o senhor Krúdy havia feito um
seguro do diamante no valor de US$ 1.100.000,00 , há aproximadamente três
meses.
Após dois dias de investigação, tudo que a policia
brasileira havia descoberto é que a roubo possivelmente aconteceu entre 12h30 e
18h do dia em que o dono do diamante fez a denúncia, pois a arrumadeira havia
deixado o quarto às 12h30, e o armário no qual ficava o cofre se encontrava
fechado. O senhor Krúdy havia deixado o quarto por volta das 7h20 e a senhora
Krúdy por volta das 10h, sendo que o senhor Krúdy passou o dia inteiro nos
eventos do congresso, voltando ao quarto somente às 18h30, e sua mulher passou
o dia fazendo compras, retornando somente às 19h.
Os seguranças de plantão não viram ninguém estranho entrar e
um deles relatou apenas que vira um velha senhora , de quem não se recordava
muito bem , tomar o elevador por volta das 14h.
Um dos guardas da recepção também viu a velha senhora e
afirmou ser a primeira e a única vez que a vira. A policia, embora considerasse
a velha senhora uma suspeita, não conseguia saber quem ela era, pois, apesar de
terem sua descrição feita pelos dois homens ninguém sabia informar a identidade
da mulher e muito menos o seu paradeiro.
A companhia de seguros,devido ao valor que teria que pagar
ao senhor Krúdy, resolveu contratar um dos melhores investigadores do mundo, o
britânico Sherlock Holmes, que veio ao Brasil acompanhado de seu fiel
escudeiro, o capitão Watson.
Bastou uma conversa com a policia para que Holmes resolvesse
o caso.
Informado pela policia de todos os fatos relativos ao roubo,
Holmes volta com Watson para o hotel e,
desabando na poltrona, acende um charuto e põe-se a fazer considerações sobre o
caso:
-Como é possível que a policia ainda não tenha chegado ao
criminoso?
-Como assim Holmes?
-É porque as pessoas não dão a devida atenção aos
detalhes...
-Não vá me dizer que você já descobriu o culpado, sem ao menos
investigar?-indagou Watson, incrédulo.
-Meu caro, é elementar. Para que você possa também exercitar
sua limitada mente, vou lhe dar alguns elementos, que juntos levarão à
resolução desse caso. Pense num motivo. Todo crime tem que ter um motivo.Pense
que alguém que rouba um diamante precisa ter alguém para vende-lo, pois do
contrário ficará com uma preciosidade que não lhe valerá nada ou será pego pela
policia ao tentar vende-lo a qualquer um. Isso provavelmente elimina as
camareiras e os seguranças do andar. Neste caso, pode ser também que o
interesse principal não seja vender, mas receber o prêmio do seguro. Agora,
procure lembrar da antiga profissão da senhora Krúdy. Depois, pense no local do
crime: com toda a vigilância existente, um estranho não poderia entrar, mas
poderia sair...Juntou as partes do quebra-cabeça?
-Não. Algumas peças ainda estão soltas, Holmes. Consigo até
entender o motivo, mas o que tem a ver a antiga profissão da mulher com isso e o
fato de não se poder entrar, mas se poder sair do local?
-Watson meu caro, você está um tanto desatento hoje. O
motivo, como você já deve ter percebido, foi o dinheiro, é sempre o dinheiro.
Agora, meu caro, consideremos a velha senhora vista pelos seguranças. Todos a
viram, mas ninguém sabe quem é e onde está, e não há registro dela no Hotel.
- Até ai tudo encaixa Holmes, contudo onde a senhora Krúdy
aparece?
-Oras, preste atenção homem ! Qual era sua profissão antes
de se casar?
-Oh! Valha-me Deus! Você tem razão, para uma profissional
como ela, seria fácil tornar-se velha.
-Parabéns capitão! Então, eis o que aconteceu:depois que o
senhor Krúdy saiu as sete e vinte da manhã, sua esposa fez o mesmo as dez
horas, com o pretexto de fazer compras, e retornou às duas da tarde,
provavelmente a hora de troca de segurança, já maquiada e pronta para o
crime.Entrou, pegou o diamante e saiu. O senhor Krúdy chegou às seis e dez,
montou a cena do roubo e deu o alarme enquanto sua adorável esposa revendia o
diamante e se transformava nela mesma. Assim os dois teriam o dinheiro do
seguro e mais o da revenda, quitando sua enormes dívidas.
-Você é brilhante Holmes !
-Elementar, meu caro Watson.